sábado, maio 02, 2015

Islândia e a Aurora Boreal

Antes de tudo, é de bom tom me apresentar, né? Aqui é a Gabriela Romeiro, viajante e fotógrafa amadora, e vou aproveitar esse espacinho aqui no blog oferecido pela Carmem pra falar sobre a minha experiência de ter visto a Aurora Boreal na Islândia.


Não sei dizer bem quando o bichinho da aurora boreal me picou pela primeira vez. Mas posso dizer, pela quantidade de grupos de caçadores de Northern Lights que existem na internet, não são poucos os que me acompanham nessa. A diferença é que a maioria mora em lugares como Noruega, Islândia e Polo Norte, onde é possível vê-las com certa frequência.
Me encontrar com a Lady Aurora parecia um sonho distante, algo bem fora do meu alcance. Até que no meu primeiro mochilão pela Europa conheci uma islandesa muito simpática que me contou algumas coisas sobre o país e disse: “Você precisa conhecer a Islândia e viver isso, mas tem que ser no inverno”.


Foi assim que na virada do ano de 2013 pra 2014 eu fiz uma promessa pra mim mesma: ir pra Islândia na época certa (depois de pesquisar vi que era verdade: luzes coloridas no céu, só em épocas frias). Ver ou não ficaria por conta da vontade da natureza e da sorte (palavra importante quando o assunto é aurora).
O planejamento pra essa viagem é extenso e envolve, principalmente, escolher a data certa. Além dos muitos preparativos, outra questão importante: como fotografar a aurora? Nas pesquisas descobri que a maioria dos caçadores de aurora também são aficionados por fotografia, e uma câmera simples não daria conta do recado. Foi aí que resolvi já andar metade do caminho, juntar minhas poucas economias, largar uma rotina chata, fazer minhas malas e ir estudar fotografia na Europa. Simples assim? Sim e não, ao mesmo tempo.


Me mudei pra Irlanda e comecei um curso de fotografia incrível com o professor Michael Conlon, com planos de ir pra Islândia em Dezembro, segundo informações, dos melhores meses pra se ver a aurora por lá. Antes disso cheguei a acampar por três dias em praias congelantes na ponta norte da Irlanda, em Donegal, onde possível ver a aurora também, mas a sorte não foi proporcional ao frio. Eis outra palavra importante pra quem está nessa missão: frio. Se acostume, pois mesmo com casacos poderosos e toda a parafernália, você vai sentir muito frio.


Eu e Maria Teresa, companheira de viagem que saiu do Brasil e se juntou a mim em Dublin, compramos todas as passagens com seis meses de antecedência. Como não existem voos saindo direto de Dublin pra Islândia, pesquisamos a escala mais óbvia: Londres. Em minha opinião, um erro que muitos cometem ao partir pra Islândia, já que os preços das passagens saindo da Inglaterra sempre me pareceram exorbitantes. Depois de simular vários stop over possíveis e dar preferência a cidades que ainda não conhecíamos, chegamos à fórmula: Dublin – Oslo (viajando de Ryanair, baratíssima), Oslo-Keflavik (voo operado pela Icelandair – lembrando que o aeroporto mais perto de Reykjavik é o Keflavik), Keflavik-Edimburgo (sairíamos dois dias depois do Natal em um voo operado pela Easyjet – a opção mais barata pra chegar à Islândia, e que de quebra nos deu a chance de conhecer o Hogmanay, famosa festa de ano novo escocesa) e depois Edimburgo-Dublin, usando novamente a Ryanair.
Passamos três dias em Oslo e o frio assustou muito. Tive hipotermia nas mãos e muito medo do que seria de mim ao chegar a Iceland. Mas a fama de ilha do gelo não fez jus à temperatura que estava quando chegamos lá: variando de 1 a 3 graus, um alívio comparado aos -14 da Noruega. Locais atribuem isso a uma corrente de ar quente que passa pelo país. Ufa.


Chegamos ao aeroporto de Keflavik no fim da tarde. Compramos um transfer em um ônibus que nos deixou na porta do hotel, em Reykjavik. Foi uma viagem curta e agradável, já que ao olhar pela janela tudo parecia surreal. Ficamos no hotel Natura Reykjavik, e apesar de não ficar no centro, vale a pena pelo conforto, limpeza, preço e ainda oferece um passe pra que você use quantos ônibus quiser durante a sua estadia.


Como ninguém queria perder tempo, já havíamos programado um tour chamado The Northern Lights Bus Tour pro mesmo dia da chegada. O que mais me atraiu no tour com relação aos outros disponíveis foi a possibilidade de voltar no dia seguinte sem pagar a mais caso as luzes não aparecessem, além da paciência da outra Maria, a tour guide, que leu e respondeu meus emails desde quase um ano antes da viagem.
Escurece bem cedo na Islândia nessa época, e no meio da noite do dia 23 de Dezembro de 2014, entramos num ônibus com alguns outros turistas em busca das Northern Lights.
Enquanto nos afastávamos das luzes de Reykjavik, Maria contava que os dias anteriores não tinham sido muito bons, e que algumas pessoas voltaram frustradas pra casa sem ver nada. Mas não demorou para que o motorista, gritando algo em Icelandic, parasse o ônibus em uma geleira e dissesse que era hora. O show tinha começado.


Sim, na primeira noite elas estavam dançando pra gente. E não só dançando, cantando. No começo eu não pensei fotografar nada, fiquei só olhando pra cima, maravilhada, rezando baixinho, com os olhos cheios de lágrimas, agradecendo a oportunidade de presenciar esse presente da natureza. É uma sensação confortável de pequeneza e de confiança na sabedoria do universo, e por mais que eu escreva aqui, sei que vai virar um papo místico e eu não vou conseguir descrever. Se você já viu, sabe. Se não viu, se dê essa chance, ao menos uma vez na vida.


Elas dançaram por muito tempo naquela noite. Quando recobrei os sentidos, saquei o meu tripé comprado a preço de banana na Amazon, encaixei a câmera, ajustei o tempo de abertura da lente pra 15 segundos, foquei no escuro e fiz minha primeira foto da aurora. Até hoje eu não sei como consegui focar em alguma coisa, ou como consegui suportar 3 horas no vento que tantas vezes me arrastava, ainda mais quando percebi, ao voltar pro ônibus, que meu casaco estava aberto. Na hora, não senti nada. Uma dica importante é: use botas antiderrapante próprias pra neve. Como você vai se meter no meio do gelo, o risco de você escorregar e cair é muito grande. E caso ela cruze o céu inteiro, desista de fotografar, apenas olhe e guarde na memória esse momento que câmera alguma vai conseguir captar.


Enquanto eu fotografava, muitas pessoas se aproximavam pra entender porque não conseguiam captar nada com as câmeras comuns. Se você pretende fotografar a aurora, o mais importante é uma câmera que te deixe ajustar a velocidade, ou o shutter speed. O foco precisa ser manual e você vai precisar testar algumas vezes, já que não dá (ao menos eu não consegui) pra focar certinho de primeira enquanto as luzes dançam. Ajuste o foco numa estrela, se conseguir. Se você quer sair na foto também, use a técnica de mixed light pra não sair tremido (use uma camada de flash no fim do tempo de exposição pra fixar a sua imagem). Se é possível fotografar a aurora no celular? Sim. Não vai sair aquela maravilha, mas é só baixar um aplicativo que te deixe ajustar o tempo de exposição. Ficamos por algumas horas do lado de fora do ônibus. O tour também inclui chocolate quente, e foi o melhor chocolate quente da minha vida, não sei se pela bebida em si ou pela temperatura quentinha.


Quando o motorista disse que era hora de voltar, as luzes ainda dançavam no céu. Voltamos olhando a aurora pela janela. Ao olhar pela janela, vejo também um canhão de luz voltado pro céu, e descubro que se trata da Imagine Peace Tower, monumento feito pela Yoko Ono pra homenagear o John Lennon e que fica aceso entre 21 e 31 de Dezembro. Maria, a guia, nos disse que aquela era a noite mais bonita do ano até então, e que tínhamos muita, muita sorte.

(Imagine Peace Tower. Foto: visitreykjavik.is)

Engana-se quem pensa que Islândia é só aurora boreal. As chances de não ver a aurora estando lá existem, portanto se o seu único objetivo é esse, aconselho que viaje para Tromso, na Noruega, onde a incidência é ainda maior. Escolhemos a Islândia por outros motivos, como as lagoas glaciais naturalmente aquecidas, os geysers, o Golden Circle, a Blue Lagoon, um país que não faz diferença entre banheiro masculino e feminino, onde chama atenção a quantidade de homens que cuidam e passeiam com os filhos sozinhos... Coisas que a gente só percebe que é raro em nosso país quando vê bastante em outro.


Os islandeses mereciam um capítulo à parte e eu não pretendo me alongar ainda mais, mas conhecemos pessoas incríveis. Fomos incluídas numa ceia de Natal onde menos esperávamos, e mesmo trabalhando, todo mundo sorria. Eu não sei se todo mundo é feliz na Islândia, mas me parece que há muito pouco a reclamar além do frio. O que dizer de uma cidade que elege como prefeito Jon Gnarr, um humorista que usa ternos cor de rosa choque, se veste de Drag Queen durante a parada do orgulho gay e vive se vestindo de Jedi?

O prefeito de Reykjavik

No último dia, pra nossa surpresa, andando pelo centro de Reykjavik, todos olhavam pra cima... Era Lady Aurora, de novo, dessa vez tão forte que era possível vê-la do centro, mesmo com todas as luzes da cidade. 


Deixar a Islândia foi difícil, ainda mais sabendo da enorme festa tradicional de ano-novo, mas seguimos pra Edimburgo com a sensação de que cada momento valeu a pena, e que deixaríamos um pouco de nós naquele lugar. Eu li num relato de Islândia escrito pelo Elder Costa que a vontade era de abraçar cada pessoa a caminho do aeroporto, e foi exatamente o que senti também.


Pra encerrar, um fato que nos marcou muito. Na fila pra Blue Lagoon, perguntamos ao atendente se seria necessário alugar chinelos ou comprar água, o que sairia caro, e ele disse que não havia necessidade nenhuma de nenhum dos dois: a água das torneiras era potável e mal usaríamos os chinelos. Nem parecia que ao dizer isso estaria perdendo a chance de lucrar em cima de duas turistas desavisadas. Isso, junto ao fato de estarmos mergulhando numa lagoa quente, no meio da geleira, nos fez concluir que a Islândia pode até estar no mapa. Mas não parece o Planeta Terra.


Espero que tenham gostado e coloco meu email à disposição pra quem quiser mais dicas: gabiromeiro@gmail.com

Até a próxima.

Gabi

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Obrigadinha, Gabi! 

12 comentários:

  1. Gaby, sou sua fã. Cê sabe, né? Adorei o relato. Parabéns!

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    1. Mi, obrigada <3 Pra vc tá fácil de ir, ein? Beijo!

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  2. Lindo post! Sonho ver a aurora... Quem sabe ano que vem..

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  3. Oi, Gabriela. Tudo bem? :)

    Seu post foi selecionado para o #linkódromo, do Viaje na Viagem.
    Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com

    Até mais,
    Bóia – Natalie

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  4. Segurei uma lagriminha aqui lendo o quanto você se emocionou. Que coisa linda!

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  5. Nossa! Seu relato me emocionou. Chorei.Deu vontade de enfrentar o frio e ver a aurora boreal na Islândia.
    voce escreve muito bem.
    adorei.

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  6. To apaixonada pelo seu relato! Estou indo realizar o sonho de ver auroras agora em Novembro!!! 4 dias em Tromso e 6 dias na islandia!!! Mas estou vivendo um dilema! Não gosto de cameras SLR porque não levo jeito pra ficar manuseando tanto equipamento pesado! Tenho pensando em comprar uma camera compacta que atendesse as caracteristicas da aurora f2.8 , exposição até 30s, ISO ao menos de 6400 etc. Você acha que com essas características umas lente atenderia? Obrigada!!!!

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  7. Oi Monalisa! Então, com essas características deve funcionar pra tirar fotos da aurora sim, normalmente exposições de 15seg foram suficientes. Existe alguma câmera compacta que possibilita você configurar manualmente? Porque a maioria configura automaticamente, então não sei... E em uma SLR você precisaria configurar as mesmas coisas, o F, a exposição e o ISO, será que não compensa mais? A T5i tem preço ótimo e dá conta... Ah, um tripé também é uma boa pedida, pras exposições longas não saírem tremidas. Boa sorte, :)))

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